sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A MOEDA EM PORTUGAL AO LONGO DA HISTÓRIA

Até ao Século II antes de Cristo, o território a que hoje pertence Portugal foi povoado ou frequentado por vários povos, sendo que alguns cunhavam moeda própria, a qual, directa ou indirectamente, acabava por ter valor e circular no actual território português.
O primeiro grande povo a colonizar e a estabelecer relações comerciais com os habitantes primitivos do actual território português, terá sido o fenício, no Século VIII a.C..
Aos Fenícios, ter-se-ão seguido os Cartagineses e os Gregos, no Século VI a.C., estes povos já cunhavam moeda própria em ouro ou prata.
No Século V a.C. os Celtas ocupavam parte da Península Ibérica, sendo certo que cunhavam moeda própria, distinta da dos Gregos.
A partir do Século II a.C. os Romanos povoaram o actual território português. Em fins do século II e no século I antes de Cristo, durante o domínio romano da Hispânia, diversas povoações foram autorizadas a bater moeda divisionária própria, presumivelmente para acudir a um crescente desenvolvimento. As suas moedas, com desenhos simples e característicos, alusivos às regiões onde estavam confinadas, foram as primeiras cunhadas no actual território português. As cidades que cunharam moeda própria no território português são as que actualmente corresponde às localidades de Castro Marim, Tavira, Brutobriga, Silves, Elvas, Alvor, Évora, Mértola, Faro, Beja, Alcácer do Sal, e Serpa.
Com o fim da República Romana e o início da Época Imperial, as moedas romanas perderam a figura dos deuses na face, substituindo-a pelo rosto dos imperadores, que se consideravam deuses vivos.
Havia, contudo, em certos locais do Império, grandes nobres que tinham o privilégio de cunhar moeda com o seu próprio rosto.
A partir do ano 305 dão-se grandes divisões no império, que é divido entre o Ocidente e o Oriente. Para a história das moedas circuladas no actual território português, apenas se referem os imperadores do ocidente, pese embora as moedas dos imperadores do oriente tenham o mesmo valor facial e possam ter sido aceites no actual território português.

Cerca do início do Século V da nossa era as tribos designadas por Suevos, acantonadas junto ao Reno no sul da Germânia, migraram através da Gália e, no ano 409, atravessaram os Pirineus, juntamente com os Vândalos. Dois anos depois os Suevos foram autorizados pelos Romanos a fixarem-se na província da Gallaecia (Galiza), onde estabeleceram, sob a chefia de Hermerico, um reino independente com a capital em Bracara (Braga). Nos dois reinados seguintes estenderam-se para sul até Mérida e Sevilha, atingindo a sua maior expansão. Foram a seguir derrotados e confinados de novo no noroeste da Hispânia, até que, já no não de 585, foram incorporados por Leovigildo na Reino Visigodo. Os Suevos bateram moeda no território que é hoje Portugal, copiando espécies romanas, quer em prata – a síliquia – quer em ouro – o solidus ou soldo e o tremissis ou terço de soldo. Destes três valores, os tremisses são as moedas mais conhecidas, apesar de bastante escassas. Espalhados por muses e colecções particulares admite-se não existirem mais de duzentos exemplares. Quanto aos soldos são extremamente raros, não atingindo vinte os espécimes que se conhecem. Da silíquia existem três exemplares, todos em muses.

Os Visigosos romperam as fronteiras da Germânia com o Império Romano cerca do ano 376 e iniciaram um processo migratório para Ocidente, durante o qual saquearam a cidade de Roma. Em 412 cruzaram os Alpes e em 417 entraram na Hispânia, mas logo regressaram à Gália, estabelecendo-se como federados de Roma, com a capital em Tolosa. Admite-se que começaram então a bater moedas de ouro, copiando os solidus e o tremissis romanos. Em 507 foram obrigados pelos Francos a abandonar a Gália. Todavia nos anos seguintes, ajudados pelos Ostrogodos de Itália, conseguiram ficar com a região dos Pirineus até Narbona – onde instalaram a residência real - e estabeleceram-se firmemente na Hispânia, onde passaram também a bater tremisses – copiados do tipo Victoria com palma e coroa de louros – em oficinas que progressivamente se vão espalhando pelo reino. Em 567 subiu ao trono Liuva I, que associou ao governo o irmão Leovigildo. Com a morte de Liuva em 572 aquele ficou só no trono, fixou a capital em Toledo, conquistou parte do sul de Hispânia aos Bizantinos e tomou o reino dos Suevos, mostrando-se um hábil governante. Não se sabe quando terá sido abandonada a enissão dos solidi, mas como aparecem copiados de moedas até Justiniano I (527-565) é de presumir a sua cunhagem até cerca do reinado de Liuva I. Leovigildo alterou progressivamente o desenho dos tramisses até estabelecer a característica cunhagem nacional visigoda.
O Reino dos Visigodos durou até 711, altura em que se deu a invasão da Península Ibérica pelos Muçulmanos.
No ano de 711 (92 da Hégira) os Muçulmanos atravessaram o mar nas Colunas de Hércules e entraram na Hispânia, onde venceram as forças visigodas do rei Rodrigo. Em pouco mais de três anos ficaram senhores de quase toda a península, que se torna a na província do Ândalus, dependente do califa Omiada de Damasco. No Oriente, no ano 750 (132 da Hégira), uma revolução substituiu a dinastia dos Omíadas pela dos Abácidas; seis anos mais tarde, um príncipe Omíada tornou o Ândalus um Emirado Independente. Em 928 (316 H) um seu descente instituiu o Califado de Córdova, que teve, em mais de meio século, resplendor comparável ao das cortes de Constantinopla e do Califado Abácida de Bagdad. Mas em 1031 (422 H), após um longo período de lutas políticas, o último califa de Córdova foi afastado, achando-se o Ândalus fragmentado em pequenos reinos, chamados de Taifas, que lutavam entre si por uma hegemonia. A lenta reconquista da Península pelos Cristãos tornou-se então mais fácil e as Taifas foram forçadas a pedir auxilio dos berberes Almorávidas. Estes conseguiram retardar o avanço cristão, mas acabaram por se instalar no Ândalus. Em 1147 (541 H) a dinastia Almorávida foi substituída em África por um novo movimento reformista, dos Almóadas. Mas no Ândalus, no período que medeia entre o declínio dos Almorávidas e a chegada e consolidação dos Almóadas no poder, apareceram novos reinos de Taifas. Destes, um dos primeiros a formarem-se foi o de Mértola, conquistada em 1144 por Ibn Qasi, filósofo, reformador religioso e político, que ali bateu moeda do tipo quirate. Dele dependeram os territórios do actual Algarve e grande parte do Alentejo, conhecendo-se também quirates e meios quirates batidos em Beja por Ibn Qasi associado ao emir Abu Talib al Zuhri. Ibn Qasi foi deposto no ano seguinte e o governo de toda a região passou para Sidray ibn Wazir, que mudou a capital para Silves, onde emitiu diversas séries de moedas. Ahmad Ibn Qasi conseguiu que os Almóadas viessem à Península e acompanhou-os até à submissão de Silves, onde ficou como governador e onde voltou a emitir quirates e também moedas de ouro.Assim, Mértola, Beja e Silves são as localidades do território hoje Portugal onde, num curto período do século XII, foram batidas moedas pelos muçulmanos de Ândalus.
No entanto, todas as moedas árabes tinham o mesmo valor e circulavam no território árabe que hoje faz parte de Portugal.
Enquanto o sul da Península Ibérica é ocupado pelos Muçulmanos, um grupo de Cristãos refugia-se na região das Astúrias, onde funda o Reino das Astúrias.
O Reino das Astúrias foi fundado por Pelágio (718-737), que, vitorioso dos Mouros em Covadonga, escolhe Cangas para Capital. Sucede-lhe Fávila, seu filho, que reina apenas dois anos (737-739) e a este Afonso I, o Católico (739-757), seu cunhado, que avança até ao Douro. Lega o poder a Fruela I (757-768), que funda Oviedo. Segue-se o período obscuro dos reis usurpadores (Aurélio, Silo, Mauregato, Bermudo I) Afonso II, o Castro (791-842), muda a corte para Oviedo, relaciona-se com Carlos Magno, continua a luta contra os Muçulmanos e chega a Lisboa, que saqueia. Raimundo I (842-850) doma as revoltas interiores e vence os Normandos, que haviam desembarcado nas costas galegas e asturianas. Ordonho I (850-866) prossegue a guerra contra os Normandos, reedifica Leão, Astorga, Tui, reconquista Orense, toma Cória e Salamanca. Afonso III, o Magno (866-910), aproveitando as dissensões entre os Muçulmanos, conquista Lamego, Viseu, Coimbra e estende os limites do reino até à foz do Mondego. Passa a intitular-se “Rei de Leão”, depois de haver mudado a capital para esta cidade. Integrado no de Leão, o reino das Astúrias desaparece.
O Reino de Leão teve inicio no reinado de Afonso III o Magno, rei das Astúrias, que se auto-proclamou rei de Leão. Com a morte do rei, o reino foi divido pelos seus três filhos, ficando Garcia com Leão, Ordonho II com Galiza e Fruela II com Astúrias. Garcia teve um reinado muito curto (910-914), tendo-lhe sucedido o irmão Ordonho II (914-924) e a este Fruela II (924-925), que voltou a reunir todo o reino. A Fruela II, sucedeu o seu filho Afonso IV (925-931), que acabou por abdicar a favor de seu irmão Raimundo II (931-951). Os monarcas que lhe seguem vêem-se envolvidos em guerras civis. Ordonho III (951-956) é combatido pelo irmão Sancho, que lhe disputa a coroa. Sancho I (956-966) é expulso pelos fidalgos, que chamam ao poder Ordonho IV (958-960). Com a ajuda de Abderramão, Sancho I recupera o trono, mas é obrigado a ceder aos Muçulmanos várias cidades e castelos. Sucede-lhe Ramiro III (966-982) e a este Bermudo II (982-999). Afonso V (999-1027), reconstitui a capital, reúne o Concílio de Leão e continua a luta contra os infiéis, durante a qual ataca Viseu, onde é ferido mortalmente. Sucede-lhe Bermudo III (1027-1037), com o qual se extingue a dinastia leonesa, que trouxera a fronteira meridional do reino até ao Mondego e declive setentrional da serra da Estrela. Morto na Batalha de Tâmara contra Fernando I, seu cunhado, rei de Castela (1035-1065), este une Leão ao seu reino. O reino de Leão volta a resucitar após a morte do monarca em 1065, que partilha o reino pelos seus três filhos. Um destes, Afonso VI, rei de Leão, vencidos os seus dois irmãos, torna a reconstituir a unidade.
Em 1095, o rei de Leão Afonso VI entrega o governo do território entre o Minho e o Tejo a um nobre francês de alta estirpe, o Conde D. Henrique de Borgonha, que, com outros cavaleiros franceses, viera à Península para tomar parte nas lutas da reconquista cristã.
Em 1109, presumivelmente em Guimarães, nasce o filho de D. Henrique com D. Teresa, D. Afonso Henriques, que herda o governo do Condado Portucalense com 14 anos de idade, ficando o conde galego Fernando Peres como regente, juntamente com sua mãe.
D. Afonso Henriques revoltou-se, juntamente com alguns barões, contra sua mãe, tendo-a vencido na batalha de S. Mamede, em 1128, ficando D. Afonso Henriques com o governo do Condado.
Em 1139 o jovem príncipe intitula-se rei e vence os mouros na Batalha de Ourique.
Em Março de 1147 conquistou Santarém e em Outubro Lisboa.
Em 1179, o Papa Alexandre III, por bula, confirmou o título de rei usado por Afonso Henriques e o domínio de todos os territórios por ele conquistados aos mouros.
Nascia oficialmente o Reino de Portugal.
Entrando agora no período da Monarquia, temos as primeiras moedas portuguesas a surgir durante o reinado de D. Afonso Henriques.
Este rei cunhou moedas de dois valores, o Dinheiro e a Mealha (que valia 1/2 Dinheiro)
D. Sancho I, cunhou o Morabitino, a primeira moeda em ouro, que valia 180 Dinheiros.
O primeiro rei a colocar uma figura coroada na moeda foi D. Fernando I.
Com o fim do reinado de D. Fernando, dá-se o 1º Interregno.
Neste período contorbado, surge o primeiro caso de edição de moedas de reis sem coroa em Portugal.
D. Beatriz manda cunhar um Real em Prata, que tem no anverso o seu busto lateral, surgindo coroada. Esta moeda terá sido cunhada em Santarém.
Simultâneamente, D. João, enquanto regedor e Defensor do Reino, manda cunhar, igualmente, moeda própria, também em prata.
Esta moeda é diferente daquela que surgirá posteriormente, quando D. João passa a ser rei de Portugal.
Com a morte de D. Sebastião, D. Henrique cunha moeda própria, pondo fim às moedas da Segunda Dinastia.
Dá-se, então, o 2º Interregno.
Os 5 governadores eleitos nas cortes de Lisboa, mandam cunhar moeda própria, constando na legenda Governadores e Defensores do Reino.
Entre 1580 e 1583, D. António Prior do Crato edita, igualmente, moeda própria.
Tais moedas, em geral, são dificieis de encontrar, mas não demasiadamente raras, salvo a de 500 Reais em ouro, de que são conhecidos apenas 3 exemplares e as de 1000 Reais, que surgem em catálogo com a indicação de raras.
D. António, cunhou pelo menos 9 tipos de moeda com valor diferente.
A correr em simultâneo, encontravam-se as moedas de Filipe I, rei de Portugal.
Com reimplantação da independencia em 1640, D. João IV inicia a cunhagem de moeda portuguesa para, em 1663, no reinado de Afonso VI, surgir a primeira moeda datada em Portugal.
A moeda também é usada para consolidar mudanças politicas e de regime. Com a implantação da República, o sistema monetário foi alterado para o Escudo, uma forma de apagar da memória do povo os "Reis".
De uma forma diferente, em 2002, Portugal assume a integração europeia com a adesão ao Euro, dando uma machadada (na visão dos mais cépticos e nacionalistas) na soberania portuguesa.
Também as Colónias e as regiões autónomas tiveram moeda própria.Existem moedas cunhadas para as regiões autónomas da Madeira e dos Açores, não só durante o período monárquico mas até na República.
Macau teve moeda própria até à sua integração na China e todas as colónias, incluindo as cidades indianas tiveram edições próprias de moedas.

3 comentários:

  1. Bom dia,
    Ao consultar este artigo no seu blogue, constatei que utiliza imagens do nosso site www.ipsiis.net, sem previamente nos auscultar sobre o assunto, ou no mínimo ter colocado uma referência ao site.
    Agradecia que corrigisse esse facto.
    Atenciosamente,
    José de Sousa
    Projecto IPSIIS

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  2. Como terá verificado a mensagem em referência existe há 3 anos.
    Não sei qual é a imagem que diz ser, originalmente, da vossa página, pois consultei-a agora pela 1ª vez e não encontrei nenhuma imagem igual.
    As imagens de moedas que tenho usado são de leilões online e do domínio público.
    Cumprimentos
    Nuno Campos Inácio

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  3. Como pode constatar não são de leilões online, nem do domínio público:
    http://www.ipsiis.net/index.php?idType=3&idMenu=4&idGroup=7&idSubGroup=8&idTopic=62

    http://www.ipsiis.net/index.php?idType=3&idMenu=4&idGroup=10&idSubGroup=13&idTopic=70

    http://www.ipsiis.net/index.php?idType=3&idMenu=4&idGroup=10&idSubGroup=14&idTopic=204
    Cumprimentos,
    José de Sousa
    Projecto IPSIIS

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