O meu saudoso amigo Vítor Madeira costumava contar uma história ilustrativa do que é a cultura chinesa e de como é possível um regime manter sob controlo uma população já muito superior a mil milhões de indivíduos.
Durante uma comissão de serviço em Macau, o Vítor deslocou-se com outros colegas desse então território português, à China. Era época de monções e chovia torrencialmente. Para espanto de todos, junto à estrada, encontrava-se um chinês com uma mangueira na mão, a regar umas árvores de fruto. Os inspectores pararam o carro e um deles, dirigindo-se ao chinês, perguntou:
- És doido? Não vês que está a chover torrencialmente? Para quê que estás a regar?
O chinês olhou para eles com toda a calma e respondeu:
- O chefe disse que hoje era dia de regar; é para regar!...
Na altura achei esta história anedótica, demonstrativa da cultura imposta pelo regime ditatorial chinês, mas actualmente já não acho tanta piada…
Portugal, que quase tudo importa da China, parece que importou também a sua cultura, baseada no não pensar e na critica e censura a quem pensa.
Nos últimos anos tem-se enraizado em Portugal esta cultura made in China. Senão, vejamos:
- Todos ouvem com muita atenção os comentadores que aparecem nas televisões e rádios e lêem os seus artigos nos jornais. Essa é uma classe dominante, que tem o direito de livre opinião (verdadeiros lideres de massas), competindo ao Povo escolher uma opinião e segui-la. Ridículo é alguém que não seja comentador aparecer a comentar. Imediatamente é apelidado de inculto, Zé-ninguém, aproveitador, frustrado em busca de protagonismo, interesseiro… A liberdade de opinião deixou de ser censurada em termos formais, para passar a sê-lo em termos materiais.
Mais grave ainda é o que se verifica nas estruturas políticas:
- O Governo diz que foi eleito para governar, pelo que pode fazer o que muito bem entende sem ser alvo de críticas e sem dar satisfações a ninguém (pois o Povo é uma massa bruta, indigna de uma explicação sobre determinadas medidas; não foi feito um referendo ao Tratado de Lisboa, porque ninguém iria perceber o que estava em causa, mas faz-se ao Aborto, porque aí a questão é muito mais terrena e todos têm cultura suficiente para perceber o que está em causa). Os que criticam são logo apelidados de: forças de bloqueio, aproveitadores políticos, peões de jogos de interesses económicos, defensores de interesses instalados, grupos corporativos, opositores fanáticos…
O pior é que a própria oposição também não é melhor:
- Acha que não tendo sido eleita, o seu papel político deve ser apenas o da crítica ao que se faz e não o de apresentar alternativas. Ou seja, a oposição abstém-se de pensar…
Se alguém com uma ideologia próxima do Governo critica uma determinada medida governamental, é imediatamente afastado do aparelho, posto à margem da estrutura, pois em Portugal há a cultura de que “não se deve cuspir na sopa que se come”.
Se alguém da oposição elogia uma medida governamental, é um vendido, um corrupto, um ignóbil, só vê o seu próprio interesse pessoal, despreza as orientações do Partido (que muitas vezes não existem), deve ser expulso, é um traidor…
Se, na China, pura e simplesmente não se pensa, em Portugal pensa-se, mas não se pode falar, não se pode questionar, não se pode criticar, não se pode elogiar, sob pena de passar a ser mal visto pela sociedade.
Ainda não consegui perceber se esta é uma cultura portuguesa fabricada na China, ou se é uma cultura chinesa fabricada em Portugal, mas inquestionável é que as ligações históricas entre estes dois povos começam a produzir efeitos colaterais quinhentos anos depois.
Durante uma comissão de serviço em Macau, o Vítor deslocou-se com outros colegas desse então território português, à China. Era época de monções e chovia torrencialmente. Para espanto de todos, junto à estrada, encontrava-se um chinês com uma mangueira na mão, a regar umas árvores de fruto. Os inspectores pararam o carro e um deles, dirigindo-se ao chinês, perguntou:
- És doido? Não vês que está a chover torrencialmente? Para quê que estás a regar?
O chinês olhou para eles com toda a calma e respondeu:
- O chefe disse que hoje era dia de regar; é para regar!...
Na altura achei esta história anedótica, demonstrativa da cultura imposta pelo regime ditatorial chinês, mas actualmente já não acho tanta piada…
Portugal, que quase tudo importa da China, parece que importou também a sua cultura, baseada no não pensar e na critica e censura a quem pensa.
Nos últimos anos tem-se enraizado em Portugal esta cultura made in China. Senão, vejamos:
- Todos ouvem com muita atenção os comentadores que aparecem nas televisões e rádios e lêem os seus artigos nos jornais. Essa é uma classe dominante, que tem o direito de livre opinião (verdadeiros lideres de massas), competindo ao Povo escolher uma opinião e segui-la. Ridículo é alguém que não seja comentador aparecer a comentar. Imediatamente é apelidado de inculto, Zé-ninguém, aproveitador, frustrado em busca de protagonismo, interesseiro… A liberdade de opinião deixou de ser censurada em termos formais, para passar a sê-lo em termos materiais.
Mais grave ainda é o que se verifica nas estruturas políticas:
- O Governo diz que foi eleito para governar, pelo que pode fazer o que muito bem entende sem ser alvo de críticas e sem dar satisfações a ninguém (pois o Povo é uma massa bruta, indigna de uma explicação sobre determinadas medidas; não foi feito um referendo ao Tratado de Lisboa, porque ninguém iria perceber o que estava em causa, mas faz-se ao Aborto, porque aí a questão é muito mais terrena e todos têm cultura suficiente para perceber o que está em causa). Os que criticam são logo apelidados de: forças de bloqueio, aproveitadores políticos, peões de jogos de interesses económicos, defensores de interesses instalados, grupos corporativos, opositores fanáticos…
O pior é que a própria oposição também não é melhor:
- Acha que não tendo sido eleita, o seu papel político deve ser apenas o da crítica ao que se faz e não o de apresentar alternativas. Ou seja, a oposição abstém-se de pensar…
Se alguém com uma ideologia próxima do Governo critica uma determinada medida governamental, é imediatamente afastado do aparelho, posto à margem da estrutura, pois em Portugal há a cultura de que “não se deve cuspir na sopa que se come”.
Se alguém da oposição elogia uma medida governamental, é um vendido, um corrupto, um ignóbil, só vê o seu próprio interesse pessoal, despreza as orientações do Partido (que muitas vezes não existem), deve ser expulso, é um traidor…
Se, na China, pura e simplesmente não se pensa, em Portugal pensa-se, mas não se pode falar, não se pode questionar, não se pode criticar, não se pode elogiar, sob pena de passar a ser mal visto pela sociedade.
Ainda não consegui perceber se esta é uma cultura portuguesa fabricada na China, ou se é uma cultura chinesa fabricada em Portugal, mas inquestionável é que as ligações históricas entre estes dois povos começam a produzir efeitos colaterais quinhentos anos depois.
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