quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Para que servem os Círculos Eleitorais?

Portugal está dividido em Círculos Eleitorais para a eleição dos Deputados à Assembleia da República. Em princípio, essa divisão pretende a criação de laços estreitos entre eleitores e eleitos e uma maior representatividade das várias divisões eleitorais no Parlamento, de forma a que umas zonas não sejam prejudicadas relativamente a outras por falta de representatividade regional.
Infelizmente tem sido frequente o total desrespeito dos grandes partidos (refiro-me aqui, concretamente, ao PS e ao PSD) relativamente a este princípio, que encontraram uma forma eficaz de fazer diminuir a representatividade das zonas mais pequenas e periféricas, colocando como cabeças de lista indivíduos de fora desses círculos eleitorais, que apenas aparecem para as campanhas eleitorais, não apresentando qualquer proposta para a melhoria das condições de vida das populações que os elegeram.
O Algarve tem sido um exemplo sucessivo desse desrespeito, com a colocação em lugar elegível de pessoas que nada têm a ver com a Região.
O Algarve elege 8 Deputados para a Assembleia da República. Nestas eleições os cabeças de lista do PS (João Soares) e do PSD (Jorge Bacelar Gouveia) não foram escolhidos pelas bases locais dos respectivos partidos, porque é unânime entre os militantes locais que estes não representam minimamente a Região do Algarve.
Porque foram escolhidos então?
Porque os líderes nacionais de ambos os Partidos querem garantir que estes indivíduos são eleitos com o mínimo de esforço individual possível; querem premiá-los por qualquer favor ou interesse político; querem travar os movimentos regionalistas do Algarve e porque não respeitam minimamente a autonomia local. Sabem que estes candidatos não trazem mais votos a cada um dos partidos do que o número dos seus familiares, pelo nítido afastamento relativamente aos eleitores.
Neste aspecto José Sócrates e Manuela Ferreira Leite estão em nítido empate técnico…
Certo é o facto de que o Algarve, na próxima legislatura, será representado apenas por 6 Deputados, porque as Nacionais dos Partidos amputaram a Região em dois dos eleitos.
Curioso é o facto de que os Círculos Eleitorais de Faro, Beja, Évora e Portalegre, ou seja, praticamente metade do país, elegem em conjunto 17 Deputados, ou seja, os mesmos que elege o Círculo Eleitoral de Setúbal sozinho. Neste caso, como só no Círculo Eleitoral de Faro há dois Deputados a menos, a representatividade real de praticamente metade do país é menor do que a que tem o Distrito de Setúbal.
Por vezes questiono-me sobre o que leva determinadas zonas de países civilizados a recorrerem à força na luta pela sua autonomia ou independência. Quando vejo uma Região como o Algarve a contribuir com 6% do PIB Nacional (c. de 13.000 milhões de Euros/ano) com apenas 4% da população, quando vejo a falta de investimento do poder central na Região e o total desrespeito da classe política liderante relativamente aos eleitores da Região, pergunto-me o que nos diferencia de uma colónia sub-jogada ao poder da metrópole.
Ou o Algarve se une com o objectivo de criar uma força de intervenção regional forte e interventiva, que faça mossa a nível nacional e impossibilite o tipo de decisões unilaterais que ocorrem nos dois maiores Partidos portugueses, ou será sempre uma Região explorada, enquanto houver algo para explorar e abandonada quando a fonte de receita se esgotar.

1 comentário:

  1. A verdade é que os políticos da nossa terra só se importam com o seu umbigo, com o seu tacho, nunca ultrapassando o que está estabelecido pelos cartolas lá de cima, adulando-os, venerando-os e obedecendo-lhe em tudo.
    Por isso é que a região do Algarve perde representatividade na Assembleia, por isso é que a região vive transformada num palco de vaidades sazonais, sem identidade própria, à mercê dos patrões de Lisboa..
    Com políticos locais destes nunca a verdadeira identidade, soberania e independência do Algarve surgirá, mas sim um conjunto conveniências, ao sabor da maré do momento.
    Haverá coragem de alguém (político) arriscar enfrentar este estado de coisas? Duvido, porque a fazê-lo perderiam as benesses, esmoladas que lhes vão deitando para continuar a alimentar a sua obediência.
    E assim muitas vezes vemos os nossos politicozecos a tomarem posições contra natura, porque a táctica do "boss" é outra, completamente desfazada da região.

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