"Na outra margem do rio, iluminada como se uma luz artificial se tivesse soltado das nuvens, surgiu, aos olhos de Catarina, a aldeia de Ferragudo, com a sua toponímia tipicamente algarvia. Foi o som do sino que anunciava as quatro horas da tarde que a levou a olhar nessa direcção...
Como surgiu bonita aquela aldeia iluminada! No cimo da sua colina fronteira ao rio, encontrava-se a Igreja Matriz, com a sua torre sineira encimada com uma cruz feita em ferro; sobre o telhado vermelho, distinguiam-se alguns pássaros minúsculos que esvoaçavam, talves de regresso a casa; em frente à fachada principal do templo, algumas árvores frondosas compunham o quadro, mostrando que ali, onde surgiu a mão do homem, também há natureza. Descendo o promontório, como se fosse uma escadaria em ziguezague, surgem os telhados das casas, alguns vermelhos, outros castanhos, mas todos cobrindo casas baixas e caiadas de branco.
Depois de correr o olhar por essa zona de Ferragudo, Catarina virou a sua atenção para a sua direita, maravilhando-se com a magnificência do Castelo de Ferragudo e com as suas muralhas que, graças à cor castanha da construção e ao verde que se realça dos seus jardins, quase parece uma obra esculpida pela natureza, graças aos caprichos do vento e da água do rio, que passa mesmo ali ao lado...
Após o castelo, viu a Praia Grande, deserta devido ao mau tempo que se fazia sentir, mas ligeiramente colorida graças aos pequenos barcos que repousavam no areal e às embarcações que se encontravam ancoradas ao largo."
Retirado de Marginais - Nuno Inácio - Edições Colibri 06.2001
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