sexta-feira, 12 de junho de 2009

Análise aos resultados das Eleições Europeias - Opinião

De uma primeira análise aos resultados eleitorais das últimas eleições para o Parlamento Europeu salta à vista um grande derrotado: o ALGARVE.
Com efeito, todos os Partidos sem excepção desprezaram completamente a 3ª Região que mais contribui para os cofres do Estado, colocando os seus representantes em posições claramente não elegíveis. Cala-se assim, inadmissivelmente, uma voz regionalista, como se os representantes desta região não tivessem honrado o país no desempenho do seu cargo.
Ainda assim, os algarvios foram votar e ajudaram a eleger candidatos (de outros locais, claro). A destacar, temos a vitória do PSD em todos os Municípios com excepção dos de Aljezur, Vila do Bispo, Lagos, Portimão e São Brás de Alportel e a subida vertiginosa do Bloco de Esquerda em toda a região.
Estes resultados necessitam ser analisados com o cuidado que os 67,46 % de abstenção e os quase 8% de votos brancos e nulos, requer.
Importa salientar que 75% dos eleitores não votaram em qualquer Partido pelo que, mais importante do que saber porquê que tanta gente não votou, será saber o que levou 25% dos eleitores a votar em determinada força política.
Acho que é unanimemente aceite que as eleições europeias servem, principalmente, para transmitir mensagens ao Governo. Como seria de esperar, a maioria dos eleitores aproveitou para demonstrar o seu descontentamento a José Sócrates, tipo “ou portas-te bem, ou vais para a rua!”. Curiosa foi a forma escolhida para demonstrar esse descontentamento, através de uma votação esmagadora no Bloco de Esquerda e não no PSD, que manteve o seu eleitorado regional (27,39% nestas eleições; 27,82% nas Europeias de 2004; 24,58% nas Legislativas de 2005; 37,68% nas Legislativas de 2002; 29,5% nas Legislativas de 1999).
Deste modo, apesar de ter vencido as eleições e de tido mais votos do que o PS, o PSD no Algarve não conseguiu cativar mais votos do que aqueles que são do seu eleitorado tradicional, isto é, não conseguiu atrair eleitorado descontente com a governação de Sócrates, surgindo como a alternativa, ao contrário do Bloco de Esquerda, que surge como uma terceira via.
A pesar neste afastamento, terá estado a ausência de uma figura regional em posição elegível nas listas do PSD. Torna-se ridículo que um candidato como Mendes Bota, que cumpriu dois mandatos no Parlamento Europeu e ainda hoje é convidado a participar nas mais diversas iniciativas europeias, sendo o mais experiente dos candidatos, surja na 14ª posição na lista de candidatos. O PSD disse que o Algarve está em 14º lugar na sua lista de prioridades e os algarvios “independentes” perceberam isso, penalizando-o.
Passadas as Europeias, seguem-se as Legislativas e as Autárquicas.
Que leitura podemos fazer destes resultados para as próximas eleições legislativas?
Na minha opinião, os resultados só se alterarão na medida em que cada Partido terá mais votos, com a diminuição da abstenção, não havendo diferenças percentuais significativas. Todos sabemos que, nas Legislativas, conta principalmente o perfil do candidato a Primeiro-Ministro e a figura colocada como cabeça-de-lista regional. Infelizmente para o PSD e para o país, parece que a candidata a Primeiro-Ministro pelo maior Partido da oposição será Manuela Ferreira Leite, pelo que, mais uma vez, o PSD não conseguirá cativar votos de eleitores descontentes. Se, para piorar as coisas, optar por colocar como cabeça-de-lista um “paraquedista” de renome nacional, certamente que o PSD não conseguirá ganhar no Algarve. Pelo contrário, o Bloco de Esquerda garante a eleição de um Deputado pelo Algarve, que certamente será conquistado ao PS.
Em termos Autárquicos, estes resultados pouco ou nada dizem, pois todos sabem que o que conta são os candidatos e as listas e não os Partidos.
Curiosa e significativa foi a clara vitória do PS em Lagos, inesperada face à conjuntura nacional e ao trabalho que tem sido desenvolvido pelo PSD local. A vitória de Nuno Marques parece mais difícil do que o excelente trabalho de oposição que tem feito faria prever.
Relativamente a Portimão, apesar da vitória do PSD na freguesia de Portimão, que encheu os responsáveis políticos locais de alegria, acho que este foi o pior resultado para o PSD, com reflexos nas próximas Autárquicas.
Passo a explicar porquê:
1 – O PS, apesar de ter perdido na freguesia de Portimão, vence no município, o que reflecte a dificuldade que o PSD tem em cativar eleitores em Alvor e na Mexilhoeira Grande.
2 – Apesar de se ter aproximado do PS, o PSD não teve mais votos do que aqueles que obteve nas últimas autárquicas (onde concorreu em coligação com o CDS), ou seja, o PS baixa drasticamente de votação, mas o PSD não conseguiu cativar esses votos perdidos.
3 – Votaram menos 5.000 pessoas do que nas últimas autárquicas. Certamente que não serão todos do PS, mas será a grande maioria, uma vez que aqueles que não o são foram votar, para demonstrar o seu descontentamento face à política do Governo.
4 – Este resultado fará com que o PS se aplique muito mais na próxima campanha, fazendo um maior apelo ao voto.
5 – O Bloco de Esquerda não tem figuras locais de destaque que permitam manter nas Autárquicas a votação que teve nas Europeias, pelo que muitos votos, de socialistas mais radicais, acabarão por ser transferidos para o PS ou para a CDU.
Assim, uma vez que o PSD ainda não demonstrou ter conseguido cativar votos aos descontentes, só a elaboração de uma lista autárquica do PSD muito forte e surpreendente poderá fazer com que o PS perca a maioria absoluta, uma vez que o Bloco de Esquerda, a eleger um vereador, será o que actualmente é exercido pela CDU, sendo de prever que o PSD, nas próximas Autárquicas obtenha sozinho a votação que João Amado obteve em Coligação, o que será uma vitória de José Dias, pois corresponderá à angariação de mais de 1500 votos.
Claro que todas estas previsões ficam comprometidas se, como parece provável, surgir uma nova lista de candidatos independentes.

1 comentário:

  1. Caro Nuno Inácio,

    Irei iniciar este comentário dando-lhe os parabens pela clara e sintetica análise eleitoral das Europeias no Algarve, em especial os resultados no Concelho de Portimão.

    De facto, o seu PSD continua na mesma, vence em práticamente todos os concelhos no Algarve, e perde em Portimão. Porquê?

    O Nuno indicou algumas razões, mas deixe que complemente sua reflexão, o ódio que os membros da Concelhia têm pelos mais relevantes e destacados militantes do PSD residentes em Portimão marca toda a diferença.

    A forma incompetente como têm gerido as diversas campanhas autarquicas é o que marca a diferença. Mudou o Candidato, para melhor na minha modesta opinião, mas a equipa incompetente e politicamente ignorante é a mesma, citar nomes pouco importa pois são os mesmos que garantiram a derrota com a Madeira, com o Amado, e com o Zé Dias.

    Fazer contas sobre dados estatisticos, apontar crescimento potencial faz lembrar o Abreu numa celebre Assembleia de Militantes quando comparou o Piscarreta ao Amado, desvalorizando o eventual candidato Piscarreta afirmando que o Amado garantia um maior crescimento, provavelmente referindo-se há esperada derrota.

    Passados 4 anos, deitam fora todos os valores e conhecimentos politicos de seniores possiveis candidatos vencedores, para ser mantida a lista dos amigos da "pleibe da concelhia" politicamente ignorante e mal formada, que não acrescentam 1 voto ao valor residual do eleitoral tradicional do PPD/PSD de Portimão.

    Caro Nuno, este é o seu PSD, que felicidade ser do PS de Portimão para poder continuar por mais 4 anos no poleiro como dizem os seus companheiros. Continuem a falar no orçamento e nas despesas, esqueçam que o que é importante são as pessoas e suas necessidades.

    Pobre PSD do Algarve, ano após ano esquece que Portimão não existe, como pode existir com esse galinheiro tão mal frequentado.

    Parebéns ao Nuno Silva pela coragem em enfrentar a pobreza politica de espirito do seus companheiros de rua.

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